Entrevista com Pr. Israel Belo de Azevedo
Seja pelo falso mito dos "super crentes", o excesso de trabalho e/ou a alta expectativa e exigências das pessoas, vivemos dias em que somos pressionados (e porque não dizer "apressados") a fazer e ser o que esperam de nós. Resultado: Gente cansada! Gente decepcionada!
Por isto e por outros fatores, há muita gente cansada de igreja também, gente que logo ficará cansada de Deus, gente que logo se afastará de Deus, às vezes irremediavelmente.
Refletindo sobre esta situação é que entrevistamos o Pr.Israel Belo de Azevedo, graduado em Jornalismo, mestre em Teologia, doutor em Filosofia e autor de livros, como O Prazer da Produção Científica, Olhar de Incerteza e Gente Cansada de Igreja.
Pastor da Igreja Batista de Itacuruça, no Rio de Janeiro e diretor do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil.
Em sua opinião, o que leva tanta gente a desistir de frequentar uma igreja?
Os fatores são internos e externos. Por internos, eu me refiro à própria condição do desistente de igreja, não importa a situação da comunidade. Menciono as expectativas sobre a igreja (líderes e membros) que não podem ser preenchidas, como atenção o tempo todo, e os desgastes emocionais, não necessariamente ligadas à igreja. As pessoas imaginam que a igreja seja uma organização perfeita e, quando descobrem que não é, desistem dela, por exemplo. As relações humanas, como na vida conjugal, são muito difíceis sempre.
Por externos, menciono os abusos que as lideranças cometem, por autoritarismo ou por desvio de conduta, sobre os membros e sublinho também a cultura da falta de compromisso e de disciplina, vigente em nossos dias. Para que se comprometer, perguntam alguns. A relação de troca acaba estressando os relacionamentos, que acabam extintos, em muitos casos. É mais fácil cobrar o que a igreja pode fazer por mim do que me perguntar o que posso fazer por ela.
Sendo a decepção um dos motivos da desistência, como devemos lidar com ela em nossos relacionamentos e na Igreja?
Não adianta pedir a um decepcionado que faça uma avaliação das causas de seu afastamento no calor da hora, ele apenas fará girar a sua metralhadora, da qual ninguém escapa, exceto ele mesmo. Mas devemos nos perguntar: onde falhamos. Como na vida conjugal, não apenas um lado falha. Os líderes precisam também tomar o cuidado para não acharem que a artilharia está assestada contra ele. Também não podem achar que não é com eles o problema.
Se o líder é um pregador, deve saber que as pessoas vão ouvir o que quiserem ouvir, o que demanda, por parte dele, um cuidado extremo. Uma vez, por exemplo, mencionei o valor da pontualidade. Depois de algum tempo, uma pessoa voltara à igreja e achou que era para ela que eu estava falando. Foi quase impossível ela entender que a orientação era para todos.
Uma das maiores dificuldades é equilibrar o respeito pelas pessoas e interesse por suas vidas. Uma pessoa desaparece e ninguém a procura. O que isto significa: respeito ou desinteresse? Da parte dos membros em geral, eles devem conferir o que ouviram. Da parte dos líderes, deve ter real interesse pelas pessoas.
Podemos afirmar que tem gente cansada de igreja dentro das Igrejas? Se sim, quais as suas características.
Sim, há, tanto dentro quanto fora. Os que já estão fora acham que a igreja prega uma coisa e vive outra, o que se aplica a líderes e membros em geral. Os que ainda estão dentro vivem reclamando, mas ainda não desistiram. Ainda bem.
Como a imagem da capa do seu livro ilustra, muitos cristãos estão parecidos com os fósforos apagados. A que se deve tanto desânimo?
Um dos fatores é o sacerdotalismo, que tem dois autores: os membros e os líderes. Por um tempo, a idéia de um sacerdote que ora por todos e que faz tudo é conveniente, embora contrária aos princípios das Sagradas Escrituras. Precisamos dessacerdotizar a igreja. É difícil porque isto vem do judaísmo e foi reproduzido pelo catolicismo romano, e somos todos um pouco judeus e um pouco católico-romanos. A maioria das pessoas não descobriu a riqueza de ser seu próprio sacerdote. Outro fator é a dita vida moderna, com tantas exigências e tantas metas. As pessoas se cansam da vida. Nem sempre a igreja consegue ser um lugar de descanso.
Como podemos agir para trazer de volta a chama do primeiro amor esquecido?
Esta é uma tarefa quase perdida. Rick Warren disse que é um esforço sem recompensa buscar os que se foram, tendo estado um tempo na igreja. Sim, eles são muito críticos e muito amargos. No entanto, devemos desenvolver ações neste sentido, mesmo que não dê resultado. Há alguns anos telefonei e escrevi para todos os afastados; nenhum voltou. Assim mesmo, vamos fazer outro esforço neste sentido. Eles precisam saber que nos fazem falta.
Precisamos gastar tempo com os que estão na igreja, para que entendam o que é a fé cristã. Boa parte não sabe.
Que cristianismo estamos passando aos mais jovens? Que disposição os mais jovens têm para levar a Palavra do evangelho de Cristo?
O problema, nesta área, não são os mais jovens, são os mais velhos.
Quais os conselhos que você daria para pastores e líderes cansados e/ou liderando gente cansada?
Quando meu pai morreu, no ano 2000, eu me lembro de poucas coisas do culto, que foi celebrado no próprio cemitério. Eu não lembro de nenhuma palavra, mas lembro de um pastor que apenas me abraçou. Precisamos, portanto, encontrar situações em que estejamos juntos. Precisamos fazer a igreja crescer: gente nova contagia; crente velho se cansa um do outro. Precisamos rever sempre a nossa motivação: por que estamos na igreja? o que nos move como líderes? qual é o nosso combustível: amor, sucesso, senso de missão ?
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