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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

PESSOAS E COISAS

Que as relações humanas em nossos dias estão cada vez mais comprometidas em razão de um fenômeno comportamental batizado informalmente de “coisificação” todo mundo sabe. O que pouca gente sabe, finge não saber ou se esforça por não saber, é que há como evitar, e até reverter mais este flagelo que parece ter nascido do útero da era pós-moderna – época em que se atribui tanto ou mais valor às máquinas e aparelhos, em detrimento às pessoas e aos relacionamentos interpessoais.
Num passado não tão distante, por exemplo, as amizades eram mais calorosas e, digamos, menos interesseiras. Para ser parte do grupo ou da turma há alguns anos não se exigia a aparência X ou Y, nem a posse de um iPod, a última novidade em celular ou a mais nova sensação em Tablet. Naquele tempo até que havia modismos e tendências, mas não tão autoritárias e violentas como hoje em dia, a ponto de fazer com que alguns excluam de suas relações quaisquer possibilidades de amizade com aqueles que não se vestem ou não se comportam como os demais de sua “tribo”.

Outro exemplo, são os tipos de relacionamentos comuns nas redes sociais da internet. O que para muitos é um avanço, para mim é um retrocesso homérico. Ser adicionado na lista de amigos virtuais na mentalidade moderna é sinônimo de aproximação, porém, entendo que em boa parte dos casos pode ser mais um fator de desagregação e distanciamento.

Pessoas que antes encontravam prazer no ato de passar horas batendo papo ou, no velho jargão, “jogando conversa fora” com amigos, parentes e vizinhos, hoje se contentam com os efêmeros “e aí? ... Blz?” do MSN, com uma clicada no “curtir” do Facebook ou com os duvidosos “scraps” no seu Orkut. Para mim, isto está mais para racionamento de amizade do que relacionamento de amizade, não é?! Vale ainda observar que as amizades neste campo além (ou será aquém?) do físico é tão frágil que basta um dia estressante para fingirmos que estamos “ausentes”, “ocupados”, “off line” ou nos desculparmos com frases prontas do tipo “não tive tempo de entrar na net esta semana”, que “o PC estava com vírus e juro que não recebi seu último e-mail”, etc.

Pode parecer ingenuidade, mas acredito que evitaríamos cair na teia da “coisificação” dando mais atenção àquelas pessoas que estão à nossa volta, mostrando real interesse por seus problemas e mostrando que temos prazer em estar com elas. Poderíamos tomar mais chás e cafés juntos; poderíamos almoçar e comer pizza mais frequentemente com familiares e amigos que há muito não sabemos por onde andam. Assim, tiraríamos os olhos do brilho das frias telas e fixaríamos nosso olhar no brilho do olhar dos outros, provavelmente acessando lugares em seus corações aonde a pesquisa do Google não chega!

Penso também que reverter este processo depende de uma decisão pessoal, uma mudança de atitude. Será possível quando as pessoas forem mais importantes que nossas agendas, empregos, cursos e demais ocupações. Quantas vezes, na tentativa de nos esquivarmos daqueles que nos reclamam um pouco de atenção usamos nossas agendas como escudo? Outras vezes, achamos que podemos perder o amigo, mas o emprego ou um dia de curso não!

Com um pouco de boa vontade e sensibilidade, em pouco tempo nos (re) condicionaríamos, se abandonarmos este estranho e impiedoso jeito de tratar as pessoas como se fossem coisas e vice-versa.

- pr Aécio - 

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