Lembro-me com muita alegria do dia em que entrei pela primeira vez numa igreja evangélica, evento que
ocorreu poucos dias após minha conversão. As primeiras impressões, os primeiros
contatos, as primeiras sensações, os primeiros sons... A primeira música (ou
hino, como queiram) que me encantou, etc. Sim, a primeira vez que uma música
que não fazia parte do meu repertório de preferências – bem limitado, por não
ser uma pessoas tão dada à musica assim – foi uma canção um tanto quanto melancólica
da Harpa Cristã. Trata-se de “O Exilado”, que no hinário citado leva o número
36.
Embora o ritmo e a letra
soassem bem estranhos ao meu limitado gosto, eles não fizeram tanta diferença
assim, pois o que me prendeu mesmo foi uma espécie de Déjà vu, aquela sensação confusa do tipo “eu já estive aqui”. Mas,
muito mais que a sensação de já ter estado ali, no meio das pessoas ou no
templo, o que me cativou foi algo muito maior. Pela primeira vez senti a
gostosura que é a atmosfera celestial tomando conta do ambiente de culto, quando
corações se juntam em verdadeira adoração. Isto, num primeiro momento, foi
decisivo para quem se sentia tão vazio, chegando de uma longa e intensa busca
de respostas para inúmeras perguntas originadas numa crise existencial (leia-se
espiritual), com a qual convivi desde a adolescência.
Lembro-me que alguém esticou o
braço na minha direção para que acompanhasse naquele “livrinho de cânticos” a letra
de “O Exilado”. Porém, meu pensamento pendia para aquela sensação sobrenatural,
que fazia meu coração bater de uma maneira diferente, que despertava emoções
que jamais havia deixado que se exteriorizassem – um misto de vontade de
chorar, com desejo de rir e gritar de alegria – o que foi difícil conter.
A primeira estrofe reverberou na minha cabeça dias e dias
seguidos. Ali, frases que falam do anelo pelo céu, em contraste com os prazeres
fúteis do mundo, explodiram na minha alma já nas primeiras linhas:
“Da linda pátria
estou bem longe;
Cansado estou;
Eu tenho de Jesus saudade,
Oh, quando é que eu vou?
Passarinhos, belas flores,
Querem m’encantar;
São vãos terrestres esplendores,
Mas contemplo o meu lar.”
Cansado estou;
Eu tenho de Jesus saudade,
Oh, quando é que eu vou?
Passarinhos, belas flores,
Querem m’encantar;
São vãos terrestres esplendores,
Mas contemplo o meu lar.”
De lá pra cá, muita coisa mudou na música evangélica. Parece
que aos poucos o céu, ou as realidades eternas vão deixando de ocupar lugar de
importância nas composições das letras. Vejo isto com tristeza, e penso que se
minha conversão tivesse ocorrido nos dias atuais, talvez ouvisse apenas cânticos
que falam de prosperidade, de bênçãos materiais, de conquistas terrenais, etc.,
e teria perdido aquele “instante de eternidade” que marcou minha vida de uma
vez por todas!
Diante do exposto, quero terminar com um apelo aos
ministros de louvor, ao pessoal que canta nas igrejas: Por favor, não se
encantem com os “passarinhos e belas flores”, cantem mais sobre a “linda pátria”
e sobre o eterno “lar”! Tragam de volta aos nossos cultos composições que fazem
a gente se sentir no céu, ainda que por uns instantes!
- pr Aécio -
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