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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

POR QUE OS LÍDERES DESISTEM?

Entrevista com Ralph W. Neighbour Jr.  
Publicado em 03.01.2012
Publicado originalmente em 26/11/2009


Questionados sobre as causas das desistências dos líderes para com seus ministérios, nos remetemos às mais diversas suposições. Indagamos sobre a convicção do chamado, sobre sua preparação para liderar, sobre o caráter e até mesmo sobre a luta espiritual travada entre o inimigo contra os crentes.
Para sairmos das especulações e conhecermos algumas das causas da desistência dos líderes é que entrevistamos um dos pastores de pastores mais conceituados e reconhecidos. Ele responde levando em conta sua vasta experiência no treinamento de liderança e seus contatos com pastores do mundo todo.

Dr. Raph Neighbour Jr. é graduado em Artes, pelo Northwestern College, com mestrado em Teologia, pelo New Orleans Baptist Theological Seminary, doutorado em Ministério, pelo Luther Rice Theological Seminary e doutorado em Teologia Sagrada, pela Southwestern Baptist University. É autor de muitos livros e manuais de capacitação associados ao movimento Igreja em Células.  Há 43 anos tem se envolvido com pastores ao redor do mundo como consultor. Atualmente é professor adjunto no Seminário Teológico Batista de Golden Gate e dirige o programa de Doutorado em Ministério desta instituição.

O senhor tem viajado para muitos países diferentes por um longo tempo. Que tipo de características ou quais fatores o irmão achou comum nos pastores que desejam desistir do ministério nesses países?

Ralph – A desistência do ministério tem origem nas mais diversas causas. Uma das mais comuns é o desânimo dos pastores frente às congregações que têm uma mentalidade consumista e que esperam do pastor o suprimento de todas as suas demandas egoístas enquanto se negam a participar ativamente do ministério. Esta também é a razão pela qual os pastores migram de igreja para igreja em algumas denominações, permanecendo numa média de 2 a 3 anos antes de partirem de novo.
As demandas sobre um pastor de uma pequena congregação são imensas. Eles precisam desempenhar vários papéis: professor, orador, organizador, captador de recursos, conselheiro, e acima de tudo ser um bom político, para que agrade àqueles membros da igreja que são formadores de opinião. Um psiquiatra que trata de pastores com esgotamento disse que em uma semana típica de trabalho a carga horária é de 70 horas. Geralmente, os salários são tão pequenos que as férias anuais não são possíveis e por isso também os filhos são privados de coisas que outros da mesma idade podem usufruir. As esposas também acabam ficando estressadas por terem que adicionar na sua rotina de mãe e dona de casa, outras atividades da igreja.

O senhor teria alguma estatística, tanto sobre os que desistem quanto os que retornam ao ministério?

Ralph – Sunscape Ministries, localizado no Colorado, é uma organização que tem servido aos pastores americanos em crise e tem informações de que 1.600 pastores desistem ou são forçados a abdicar do púlpito por mês, isto considerando todas as denominações ao redor do mudo. Destes, poucos retornam ao ministério.

Observamos uma tendência em muitas igrejas de “espiritualizar” todos os problemas. O senhor diria que isto também acontece quando falamos de desistência de ministério? Ou seria o inimigo o maior responsável por isso?

Ralph – Creio que é óbvio que os pastores estão envolvidos em uma guerra espiritual, não é? Apesar disto, muitos estão servindo de forma que aparenta não dar conta das artimanhas do inimigo. Muitos seminários teológicos chegam a boicotar a crença individual na pessoa do inimigo (isto aconteceu comigo!) e o fato de tratar do demoníaco é tido como radical. Mas, sim, Satanás fará todo mal possível para destruir um pastor. Pode ser através de um apelo à luxúria. O desejo do pastor de ser importante, a ganância por riquezas, e acima disto tudo, a sede de poder e de controle. Muitos ministros estão espiritualmente falidos. Recentemente, fizemos uma pesquisa com 500 pastores evangélicos nos Estados Unidos e levantamos que eles gastam, em média, somente 7 minutos por dia em oração. Trabalhar para o Senhor na força do braço é certeza de esgotamento! Muitos pastores não experimentam estilos de vida santificados e nem tem uma paixão interna por ver vidas optando por seguir a Cristo.

Haveria uma maneira pessoal através da qual os próprios pastores podem se prevenir de desistir?

Ralph – Com certeza! Em primeiríssimo lugar, eles devem ter uma poderosa vida de oração. Um mínimo de 1 hora por dia. Em segundo lugar, eles devem procurar viver em uma comunidade verdadeira e não se comportarem como ermitões. Tanto nos Estados Unidos quando na Austrália, vi os números de desistência pastoral caírem somente pelo fato de pastores se reunirem semanalmente por 1 ou 2 horas ao invés de terem encontros mais longos a cada 4 meses. No Estado de Illinois, a formação de células para pastores teve um impacto na taxa de desistência dos pastores batistas.

O senhor está casado há quase 6 décadas. O que poderia dizer sobre a importância da sua esposa e o papel que ela tem desempenhado em não deixar que o senhor desista do ministério?

Ralph – Do alto dos meus 57 anos de casamento posso testificar que dividir minha vida com a Ruth foi um dos maiores presentes que Deus me deu para que eu não desistisse. Tenho enfrentado muita rejeição ao longo dos anos, já que Deus me deu direção ministerial para atuar no sentido de ser agente de mudança dentro das denominações tradicionais. Seu compromisso constante com nosso chamado mútuo tem me mantido nos trilhos. Ao mesmo tempo, tenho conversado com muitos pastores que tem que, literalmente, carregar suas esposas nas costas como um fardo, já que se recusam a compartilhar seu chamado e visão. Sofro por eles!

Já pensou em desistir em algum momento? Por que? Poderia nos dar detalhes sobre como superou esta fase?

Ralph – Sim. Houve um momento quando eu deixei minha denominação, aos 36 anos, para procurar um modelo do novo testamento para a igreja. Fui rejeitado e considerado por praticamente todas as pessoas acima de mim como um radical. Uma vez escrevi que se tivesse morrido naquele momento, não haveria sequer um colega pastor disposto a falar no meu funeral! Ser um agente de mudança foi muito dolorido! Lembro-me das palavras de Paulo em At 20.24 "Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus". Quando um homem tem uma visão, ele corre o risco de desistir. Mas quando a visão tem o homem, não há retorno, não importam as circunstâncias. Desde quando tinha 34 anos e até agora aos 80, tenho me alegrado no chamado do Mestre, e as circunstâncias nunca ofuscaram este chamado.

O que as igrejas podem fazer para ajudar os pastores e minimizar os fatores que provocam desistências?

Ralph – Estou convencido de que a desistência do atual modelo tradicional de ser igreja e a transição para Comunidades Cristãs de Base (ou grupos de células) proporciona uma mudança radical no estilo de vida do pastor. Ele não tem mais que ser tudo para todos os membros. Ele consegue reorganizar sua vida de forma significativa uma vez que aprende a servir como um treinador de outros que farão o verdadeiro trabalho ministerial.

Que conselho pessoal o senhor daria para os pastores que estão se sentindo cansados e esgotados?

Ralph – Antes de desistir, considere o fato de que você ainda não chegou ao estágio final do seu ministério. Ser o dono de uma visão vai “acabar” com você. Ser possuído por uma visão lhe dará uma alegria contagiante uma vez que você será carregado pelo Cristo que vive dentro de você, dando-lhe poder e fluindo por seu intermédio! Leia sobre as vidas daqueles homens que chegaram ao estágio de serem possuídos por uma visão, começando com Paulo. O Cristo que habita em você é o grande segredo. O pastor que vive nEle nunca fica esgotado, muito pelo contrário, ele se torna uma fonte que está sempre fluindo a partir de águas profundas. Não há esgotamento quando o fogo dentro de nós é puro Shekinah!

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