“Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo.” (Colossenses 2.8)
Preocupado com a situação
espiritual dos crentes na cidade de Colossos, o apóstolo Paulo advertiu-os para
que tivessem cuidado, pois falsos mestres haviam se introduzido no seio da
Igreja. Paulo combatia sobretudo a influência gnóstica entre os Colossenses.
Além do apóstolo Paulo, Judas e João também alertaram a igreja acerca desse
perigo.
Gnosticismo vem do grego
gnosis, que significa “conhecimento”. Criam possuir a verdadeira fórmula da
salvação, a saber, o “conhecimento místico” que Cristo teria transmitido
secretamente aos discípulos e que apenas um grupo seleto de “iniciados” poderia
atingir[1]. Por cerca de cento e cinqüenta anos, os gnósticos assediaram os
cristãos e , infelizmente, sua heresia corrompeu a muitos[2]
Hoje a situação não é
diferente. Além do gnosticismo (que influenciou o “Movimento de Confissão
Positiva”, comumente conhecido no Brasil com os nomes de “Movimento da Fé”,
“Movimento da Prosperidade”)[3], inúmeras outras seitas abundam atualmente
arrastando muitos professos cristãos para heresias de perdição (II Pedro
2:1,2). Os dados são alarmantes.
Nós recebemos regularmente
cartas de familiares ou amigos de professos cristãos (e às vezes dos próprios)
que abandonaram sua igreja, enveredando-se no mundo das seitas. Trechos da
carta a seguir revelam o poder destrutivo das seitas na mente de pessoas que
viviam no meio evangélico:
“Fui criada num lar cristão.
(…) Somos onze filhos. Mamãe nos criou na igreja, aonde aprendemos a servir e a
adorar a Deus. Por quarenta anos minha mãe foi evangélica, mas há quatro anos,
tudo isso se transformou em blasfêmia e contradição desde que mamãe decidiu se
tornar 'Testemunha de Jeová'. Isso é muito triste, mas é verdade; e o que me
tem causado mais tristeza é o fato de saber que ela tem influenciado toda a
família. (…) ÀS vezes fico me questionando o por quê. (…) Gostaria de pedir um
conselho, uma palavra de conforto. (…)”.
J.A., Bahia.
Casos como o da mãe de J.A.
têm sido freqüentes. Diante disso, muitos de nós temos curiosidade de saber o
que leva pessoas entre os evangélicos a sentir atração pelas seitas. Seria seu
zelo religioso? Sua demonstração de amor ao próximo? Sua unidade organizacional
que supera à dos evangélicos? Seria um súbito sentimento de euforia por estar
abraçando conceitos religiosos fascinantes, nunca antes aprendidos?
Nas conversas que mantemos com
ex-evangélicos, que hoje são adeptos de seitas, percebemos que o motivo
principal do rompimento com o cristianismo bíblico-histórico raramente é
doutrinário[4]; geralmente assuntos de menor importância têm primazia. O
problema esta no que se entende como genuína espiritualidade.
DISCERNINDO A VERDADEIRA
ESPIRITUALIDADE
Vivemos atualmente em uma
época que as pessoas estão fascinadas pela espiritualidade, altamente se
enfatiza as experiências religiosas, testemunhos impactantes e dramáticos a
valorização da sinceridade acima da verdade; o sentimento acima da realidade.
Muitos hoje dizem que a essência da verdadeira espiritualidade são as emoções.
E nós cristãos temos a tendência de sobrepor nossas experiência espirituais
acima do próprio Cristo e seu Evangelho.
Muitos cristãos acabam
sucumbindo a mensagem das seitas por confundir sinais de espiritualidade com a
genuína intimidade com o Salvador. Diversos Sectaristas passam igualmente por
uma tremenda e dramática conversão religiosa. Eles falam em serem felizes
agora, de terem paz interior, são extremamente pietistas na oração, na devoção,
no evangelismo, mas estão longe da Graça Salvadora[5].
Há poucos dias recebemos uma
ligação de uma senhora desesperada em busca de orientação. Ela que já havia
estado em várias igrejas evangélicas (entretanto se decepcionou com todas),
julgava agora ter encontrado a “igreja verdadeira” e comentou que “ali
encontrou o amor e aceitação que procurava”. No entanto, após sucessivas
reuniões com o grupo percebeu algo estranho em relação às doutrinas daqueles.
Ao ser orientada que o referido grupo é uma seita ela comentou: “Eu me sinto
bem lá”. “A gente vê amor naquelas pessoas”.
O puritano Jonathan Edwards
(1703-1758) escreveu: “que o amor e a humildade são imitados, mais do que
qualquer outra virtude cristã … tudo que tem valor, e só as coisas que têm
valor são objeto de falsificação. Varias pessoas já foram enganados por
diamantes e dinheiro falso, charlatões também a muitos…”[6] (Mateus
24:12-13).Muitos judeus nos dias de Jesus, que davam glórias a Ele seguindo-o
de dia e de noite sem comida e sem bebida ou sono. Costumavam dizer: “Mestre,
eu te seguirei por onde quer que fores” (Mateus 8:19) ou então “Hosana ao filho
de Davi”. (Mateus 21:9) Não obstante esse amor era falso.
CONCLUSÃO
Portanto o nosso
relacionamento com Deus deve estar alicerçado sobre a rocha que é Cristo e não
nas areias movediças de nossa experiência, esforço, zelo, devoção, entrega. O
apostolo Paulo teve uma conversão dramática. Mas contrastando com a dele,
Timóteo cresceu gradualmente por meio da instrução familiar (Atos 9:3-5, 17-18;
2 Timóteo 1:5).
O evangelho de experiências
tem vida curta, pessoas que são convertidas por meio dele têm em suas vidas uma
porta escancarada para novas descobertas. Estão sempre em busca de algo novo,
algum orador eloqüente e inteligente, lugares onde há especulações proféticas,
testemunhos que fortemente mexem com suas emoções. Agem semelhantemente como o
toxicômano que tem necessidade de aumentar o consumo da droga para prolongar
seu estado de euforia.
Em pouco tempo enveredam pelo
caminho do misticismo ou paganismo. Já o evangelho autentico é somente baseado
nos méritos sacrificiais do Senhor Jesus. “Não existe plano mais alto – nenhuma
experiência sobrepujante ou vida mais profunda. Cristo é tudo em todos.
Agarre-se a Ele. Cultive seu amor por Ele. Somente nele você é completo!”[7]
Soli Deo Gloria!
————–
[1] Pagels, Elaine – “Os
Evangelhos Sinóticos, São Paulo, Cultrix, 1979.
[2] Champlin, Russel Norman. O
Novo Testamento Interpretado Versículo por versículo. Vol. 5. São Paulo:
Candeia, 1996.
[3] “Há seitas gnósticas em
nossa sociedade hoje, e o movimento Palavra da Fé – é a mais nova e disfarçada
de todas as seitas gnósticas que apareceram nos últimos dois séculos” – Judith
Mata, em “The Born Again Jesus of the Word Teaching, Fullerton, Ca. Spirit of
Truth Faith Teaching, 1984, pgs. 21, 22, 25
[4] Em certos grupos
pseudo-cristãos (entre esses a que se destacar As Testemunhas de Jeová e os
Adventistas do Sétimo Dia) de cunho racionalistas o indivíduo é levado por meio
de argumentos aparentemente eruditos carregado de citações imprecisas da
história secular e eclesiástica e uma interpretação pobre e segmentada das
Escrituras a romper com a fé cristã e abraçar os ensinos heréticos de tais
grupos. Vale lembrar o que disse o Dr. Robert Thomas, professor do conceituado
Seminário Master (EUA): “As pessoas não se tornam heréticas de uma vez; isso
acontece gradualmente. Elas não fazem isso intencionalmente, na maioria das
vezes. Deslizam para a heresia através do relaxamento no manusear a palavra da
verdade…Tudo o que é necessário para tomar o caminho da heresia é uma ansiedade
por algo novo diferente, uma idéia nova, juntamente com uma certa preguiça,
descuido ou falta de exatidão no manusear a verdade de Deus” – (Precision as
God’s Will for My Life” Panorama City, CA, The Master’s Seminary, 1989). A
imprecisão doutrinária a “prequicite mental” quanto ao estudo das Sagradas
Escrituras coloca a pessoa como uma vitima em potencial destas seitas.
[5] Veja Isaías 1:15; Ezequiel
33:31; Mateus 7:22-23.
[6] Conforme citação de Gerald
R. Mcdermott em, “O Deus Visível”; Edições Vida Nova, 1997, pg. 62.
[7] John F. Macarthur, Jr., “Nossa Suficiência
em Cristo”, Editora Fiel 1995, pg. 157
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