FONTE: CACP
As primeiras informações que retratam de forma efetiva a perseguição
religiosa no Brasil se remonta a 1557, quando os huguenotes (calvinistas
franceses) chegaram ao Rio de Janeiro com o propósito de ajudar a
estabelecer um refúgio para os calvinistas perseguidos na França.
Em 10
de março de 1557, os protestantes franceses celebraram o primeiro culto
evangélico do Brasil e no dia 21 de março celebraram a primeira Santa
Ceia. Todavia, pouco tempo depois Villegaignon entrou em conflito com as
calvinistas acerca dos sacramentos e os expulsou da pequena ilha em que
se encontravam. Alguns meses depois, os colonos reformados embarcaram
de volta para a França. Quando o navio ameaçou naufragar por excesso de
passageiros e por ter pouca comida, cinco deles resolveram regressar.
Esses cinco se sacrificaram em favor dos seus irmãos na fé. Assim que
chegaram em terra foram presos: Jean du Bordel, Matthieu Verneuil,
Pierre Bourdon, André Lafon e Jacques le Balleur. Pressionados por
Villegaignon, foram obrigados a professar por escrito sua fé, no prazo
de doze horas, respondendo uma série de perguntas que lhes foram
entregues. Eles assim o fizeram, e escreveram a primeira confissão de fé
na América, sabendo que com ela estavam assinando a própria sentença de
morte. Essa maravilhosa declaração de fé é conhecida como a ”Confissão
de Fé da Guanabara” (1558). Em seguida, os três primeiros foram mortos e
Lafon, o único alfaiate da colônia, teve a vida poupada. Os mártires do
evangelho foram enforcados e seus corpos atirados de um despenhadeiro.
Balleur fugiu para São Vicente, SP, foi preso e levado para Salvador
(1559-67), sendo mais tarde enforcado no Rio de Janeiro, quando os
últimos franceses foram expulsos.
Quase 100 anos depois,
os holandeses criaram a Companhia das Índias Ocidentais com o objetivo
de conquistar e colonizar territórios da Espanha nas Américas,
especialmente uma rica região açucareira: o nordeste do Brasil. Em 1624,
os holandeses tomaram Salvador, a capital do Brasil, mas foram expulsos
no ano seguinte. Finalmente, em 1630 eles tomaram Recife e Olinda e
depois boa parte do Nordeste. Neste periodo João Maurício de
Nassau-Siegen, que governou esta região entre 1637 a 1644, concedeu uma
boa medida de liberdade religiosa aos residentes católicos e judeus.
Sob os holandeses, a Igreja Reformada era oficial. Foram criadas vinte e
duas igrejas locais e congregações, dois presbitérios (Pernambuco e
Paraíba) e até mesmo um sínodo, o Sínodo do Brasil (1642-1646). Mais de
cinquenta pastores ou “predicantes” serviram essas comunidades. A Igreja
Reformada realizou uma admirável obra missionária junto aos indígenas.
Além de pregação, ensino e beneficência, foi preparado um catecismo na
língua nativa. Outros projetos incluíam a tradução da Bíblia e a futura
ordenação de pastores indígenas. Em 1654, após quase dez anos de luta,
os holandeses foram expulsos, transferindo-se para o Caribe. Os judeus
que os acompanhavam foram para Nova Amsterdã, a futura Nova York.
Desde
então, não se sabe de relatos de cultos protestantes no Brasil. No
entanto, com a chegada da família real a terras tupiniquins e com a
abertura dos portos as nações amigas, as confissões protestantes
começaram paulatinamente a chegar ao país. Os Anglicanos chegaram em
1811, os luteranos em 1824, os Congregacionais em 1855, os
presbiterianos em 1859, e os batistas em 1871. Todavia, em virtude da
constituição de 1824 outorgada por D. Pedro I, que afirmava ser o
catolicismo romano a religião oficial do Brasil, os protestantes não
possuíam direito a cultos públicos em língua portuguesa, além é claro de
não terem permitidos a construção de templos com aparência religiosa.
Já
no governo de Dom Pedro II , (mesmo o imperador possuindo uma grande
simpatia pelos protestantes), não era nada fácil afirmar publicamente a
fé nos pressupostos cristãos, mesmo porque, a religião oficial do Estado
imprimia forte perseguição religiosa aos evangélicos.
Com a
Proclamação da República, o Estado Brasileiro deixou oficialmente de ser
Católico Romano permitindo assim com que os protestantes tivessem
direito a culto. Todavia, como não poderia deixar de ser, a maioria da
população ainda desenvolvia um significativo preconceito para com
aqueles que se diziam cristãos protestantes. A consequência direta disso
foi a aniquilação de inúmeras templos evangélicos, que de forma
covarde foram destruídos pelo fogo. Dentre estes, encontra-se a 1ª
Igreja Batista de Niterói, que em 14 de abril de 1901, teve seus
móveis, púlpito, pertences e diversos utensílios queimados em plena rua,
além de sua sede destruída.
Durante a primeira metade do século
XX, os crentes em Jesus foram estigmatizados e denominados pelo clero
romano como hereges sofrendo por conseguinte ofensas morais, onde
atributos pejorativos lhes eram destinados. Junta-se a isso, o fato de
que muitos por causa da sua crença sofreram no corpo agressões físicas
por não professarem a fé dos sacerdotes romanos. Na segunda metade do
século XX a perseguição se deu de forma velada mediante os meios de
comunicação que a todo custo vendiam a sociedade brasileira a imagem de
uma igreja burra, ignorante e manipuladora da fé alheia.
Caro
leitor, a constituição de 1988 nos garante liberdade de fé e religião. O
artigo 5º da Carta Magna diz que ´”É inviolável a liberdade de
consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e
a suas liturgias.” Todavia, os cristãos evangélicos correm o risco de
sofrerem novas perseguições substanciais em virtude do projeto de lei
122 que tramita na Congresso Nacional que se aprovado irá criminalizar
àqueles que manifestam suas opiniões religiosas contrárias ao casamento
gay.
Vale a pena ressaltar que a fé protestante não defende a
homofobia. Na verdade, nós cristãos-evangélicos somos contrários a todo
tipo de violência física condenando veementemente aqueles que atentam
contra a vida de quem quer que seja. Todavia, acreditamos também que
possuímos o direito irrevogável e constitucional de expor publicamente
nossa fé conforme claramente afirma a nossa carta magna.
Isto
posto, oro ao Senhor nosso Deus que estenda a mão sobre o Brasil
livrando a sociedade brasileira de uma lei que sem sombra de dúvida
promoverá mais uma severa perseguição religiosa no Brasil.
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