A Copa do Mundo está custando
para o Brasil muito mais do que o que tem sido divulgado. Não falo sobre
o dinheiro torrado em arenas esportivas, obras superfaturadas e
segurança dos jogos. Falo sobre o preço a ser pago pelas nossas
instituições democráticas.
Qual o valor da fé na democracia? O que significa crer que a
democracia é promotora da justiça social, da justa distribuição de
renda, da igualdade entre os homens e do respeito à Declaração Universal
dos Direitos Humanos? Para milhões de brasileiros tudo se tornou fake.
Pura fantasia. Fingimento cretino. Há a sensação de que estamos todos
brincando de sociedade.
Uma violência foi cometida contra a consciência social do povo.
Verdadeiro estupro cultural. Absoluto desrespeito por valores que unem
ribeirinhos do Amazonas a sertanejos nordestinos e moradores de favela
do Rio. Ninguém ainda demonstrou como justificar moralmente para milhões
de pobres a inversão desumana de valores que fez estádios exuberantes,
patrocinados com dinheiro do trabalhador, surgirem antes de escola,
hospital, moradia, rede de esgoto. Como justificar a garra e mobilização
da classe governante para a realização da Copa, num país de miséria?
Vou falar de forma pouco recomendável. Sinto náusea. Ainda mais
quando vejo a falta de humildade do poder público brasileiro, que se
recusa a reconhecer o erro grosseiro que dividiu o país. Estamos todos
diante de um efeito: o Brasil rachou! Milhões estão contra a Copa,
recusando-se colaborar com a decoração da festa para a qual não foram
convidados. Qual a causa desse clima de apatia, indiferença e revolta?
Tem gente que deve um pedido de perdão ao país. Vou ser mais
específico: Tem gente que deve um pedido de perdão ao pobre e à
democracia.
Antônio C. Costa
Ps. Foto batida na Favela Nova Holanda, no Rio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário