A Igreja e a Perseguição Religiosa
A Igreja
O cristianismo possui raízes antigas na Líbia. Os primeiros cristãos
de Cirenaica (Líbia) datam do primeiro século da era cristã, como
descrito no versículo do livro bíblico de Atos 2.10. Havia em Cirene
muitos judeus, que formaram o núcleo da igreja cristã líbia em seus
primeiros anos de vida. Mas a fraca evangelização inicial, em conjunto
com o enfraquecimento causado pelo cisma donatista* , deixou o país à
mercê do avanço islâmico no século VII. O cristianismo foi praticamente
eliminado e, atualmente, há apenas alguns milhares de cristãos líbios, a
maioria constituída de trabalhadores estrangeiros.
Os líbios são um dos grupos menos alcançados pelo evangelho. A maior
parte dos líbios da etnia árabe não sabe em que os cristãos realmente
creem. Por causa de suas fortes raízes muçulmanas, não considerariam a
mensagem do evangelho como algo dirigido a eles.
A Perseguição
A perseguição enfrentada pela igreja líbia não é fruto da modernidade
ou pós-modernidade, sempre fez parte de sua história. De acordo com
Atos 11.19-20, devido à forte perseguição que enfrentavam, os cristãos
cireneus foram dispersos, levando o evangelho a Antioquia e aos gregos.
Atualmente nenhuma forma de evangelismo ou trabalho missionário é
permitida. Apenas os estrangeiros podem se reunir, contudo são
monitorados. Assim, os líbios não participam desses cultos por medo de
ser vigiados, delatados, presos e até mesmo assassinados.
Ainda que a Líbia seja um Estado laico, seus líderes prestam grande
respeito ao islamismo, conferindo-lhe papel ideológico na sociedade. O
governo exige respeito às normas e tradições muçulmanas e a submissão de
todas as leis à sharia (lei islâmica).
O governo proíbe a conversão de muçulmanos e, por isso, a atividade
missionária. Ele também exige que todos os cidadãos sejam muçulmanos
sunitas "por definição". Há organizações secretas e redes de espiões que
monitoram possíveis rebeldes e também os estrangeiros. Essa situação
faz com que seja praticamente impossível evangelizar na Líbia. As
pessoas raramente são perturbadas por causa de suas práticas religiosas,
a menos que tais práticas sejam percebidas como tendo dimensão ou
motivação política. O governo controla e restringe toda atividade
política, monitorando também a literatura religiosa, inclusive a
islâmica, publicada ou importada ao país.
A importação das Sagradas Escrituras em árabe ainda é estritamente
controlada. É proibido evangelizar muçulmanos. Os muçulmanos que se
convertem são sujeitos à pressão e ostracismo social. Muitos deles
consideram a possibilidade de abandonar sua pátria. Em fevereiro de
2006, uma igreja e um convento católicos da cidade de Benghazi foram
roubados e incendiados. O bispo e as freiras ficaram em Trípoli durante
algumas semanas, até que os prédios fossem restaurados.
Resta saber se, após a queda do regime de Muamar Kadafi, os cristãos
líbios terão ou não mais liberdade de cultuar a Deus e compartilhar de
sua fé com outros líbios. O líder dos rebeldes líbios, Mustafa Jalil,
disse em seu primeiro discurso para o povo líbio, após a queda do
ditador Kadafi, que “a sharia (lei islâmica) deve ser a orientadora e
principal base da legislação da Líbia de agora em diante”. Tal
posicionamento demonstra que a situação dos cristãos pode não mudar em
nada ou piorar.
História e Política
A Líbia é o 17° maior país do mundo e sua extensão equivale à soma
dos Estados do Amazonas e Amapá. A maior parte de seu território é
deserta, com oásis ao noroeste e planícies costeiras ao nordeste. O nome
Líbia foi, na antiguidade, o nome latino que designava o norte da
África. Provavelmente a palavra deriva do grego libu, em referência a
uma antiga tribo berbere que viveu sob o domínio dos egípcios. A região
onde hoje se localiza a atual Líbia foi habitada por diversos povos da
antiguidade.
Os primeiros povos a habitar seu território foram os berberes, cerca
de 2000 anos antes de Cristo. No século VII a.C., parte de seu
território foi dominado pelos fenícios e gregos; os primeiros lhe
conferiram o nome de Tripolitânia e os últimos, de Cirenaica. A Líbia
foi dominada também por cartagineses, romanos e vândalos. Tripolitânia, a
Líbia romana, alcançou seu apogeu por volta de 190 d.C., sob o governo
do imperador Septimius Severus. Com o enfraquecimento de sua política e
as invasões dos bárbaros e vândalos, Tripolitânia acabou sendo dominada
pelos vândalos. Posteriormente a região foi dominada pelo Império
Bizantino (Império Romano do Oriente) e, no século VII, pelos árabes
muçulmanos.
Do século XVI ao XX, a Líbia viveu sob o domínio do Império
Turco-Otomano. Em 1911, a Líbia foi invadida e dominada pela Itália,
apesar da forte resistência. Finalmente, o país obteve sua independência
em 1951, tornando-se logo um Estado rico, com a descoberta de suas
abundantes reservas de petróleo. Em 1969, o coronel Muamar Kadafi
assumiu o controle do país por meio de um golpe militar que derrubou o
rei Idris I. O sistema implementado passou a ser uma combinação de
socialismo e práticas islâmicas derivadas das tradições tribais.
As revoltas sociais e políticas que se iniciaram no final de 2010 em
alguns países do mundo árabe, conhecidas como “Primavera Árabe”,
resultaram em longos seis meses de confronto militar entre as tropas de
Kadafi e as forças rebeldes apoiadas pela OTAN, e na queda do ditador.
Não se sabe ao certo quando serão realizadas as eleições para a escolha
do novo líder do país, mas é provavel que em junho de 2012 sejam
escolhidos um novo Congresso Nacional e uma nova Assembléia
Constituintem que trabalharam na elaboração de uma nova constituição e
prepararão o cenário politico para as eleições em 2013.
População
Apesar da grande extensão, a Líbia é pouco povoada. Entre os seus 6,6
milhões de habitantes, cerca de 1,5 milhão é estrangeiro, vindo de
países árabes e africanos. Um terço da população líbia tem menos de 15
anos e a maioria dos líbios reside em áreas urbanas. Etnicamente, 97% da
população constitui-se de árabes e berberes. Os outros 3% são bem
diversos, formados por gregos, malteses, italianos, egípcios,
paquistaneses, turcos, indianos e tunisianos.
A qabilah, ou tribo, é a base da estrutura social da Líbia, cujas
famílias têm em média cinco membros. Essa composição étnica variada,
baseada em tribos, exerce grande influência no cenário político do
país. A educação é pública e gratuita, sendo 85% da população
alfabetizada. A assistência médica também é gratuita e bastante
acessível, mas ainda é deficiente nas áreas rurais.
Economia
A economia da Líbia é muito dependente da indústria petrolífera, que
contribui com cerca de 95% das receitas de exportação. Antes dos
conflitos militares que tiraram Kadafi do poder, o turismo também era
uma importante fonte de renda para o país, porém agora tudo dependerá da
situação política e da reconstrução das cidades destruídas. Mesmo com
seu foco voltado para a indústria petroquímica, o governo líbio vinha
investindo na setor agrícola.
FONTE: Portas Abertas
___________________________________________
*A seita donatista: assim como o Novacionismo, fundado
pelo Antipapa Novaciano no século III,[2] os donatistas eram rigorosos e
sustentavam que a Igreja não devia perdoar e admitir pecadores, e que
os sacramentos, como o batismo, administrados pelos traditores (cristãos
que negaram sua fé durante a perseguição de Diocleciano em 303-305 e
posteriormente foram perdoados e readmitidos na Igreja), eram
inválidos[1]. O Cisma Donatista foi uma divisão que ocorreu na igreja de
Cartago devido a questões de sucessão em seu bispado. Aqueles que eram
contrários à eleição de Ceciliano ao bispado de Cartago escolheram
Donato de Casa Nigra como seu novo bispo, o que gerou um cisma na
Igreja.
Nenhum comentário:
Postar um comentário