Sudanesa condenada à morte por ser cristã
FONTE: Site Público (Portugal)
A sudanesa Meriam Yehya Ibrahim Ishag é ortodoxa, é casada com um sudanês cristão, tem um filho de 20 meses e está grávida de oito meses de uma segunda criança. No seu país, onde impera a lei islâmica e é punida a conversão a outra religião, foi acusada, em Agosto de 2013, de adultério, por estar em união com um homem que não é muçulmano, e em Fevereiro deste ano foi-lhe imputado o crime de apostasia. Esta quinta-feira, a mulher de 27 anos foi condenada à morte por enforcamento e a receber 100 chicotadas.
O
caso é denunciado pela Anistia Internacional. Meriam foi educada pela
mãe segundo a religião Ortodoxa e não islâmica, a fé do seu pai, um
homem pouco presente durante a sua infância. Casou com um sudanês do
sul, também cristão, e desde então a lei islâmica tem encontrado falhas
que considerada graves na sua conduta.
Depois de ter sido
detida e acusada de adultério no seguimento de uma denúncia de uma
membro da sua família de que estava casada com um cristão (o casamento
com pessoas de outra religião não é reconhecido pela sharia), Meriam foi acusada de renunciar à religião do seu país ao afirmar-se cristã. Está detida com o filho de 20 meses.
No
último domingo, um tribunal de Cartum considerou-a culpada de adultério
e apostasia (renúncia a uma crença religiosa), após a mulher ter
recusado, mais uma vez, que o islã não é a sua religião. Condenou-a à
morte por enforcamento por apostasia e a 100 chicotadas pelo adultério.
Mas deu-lhe ainda três dias para renunciar ao cristianismo e assim
evitar a sentença. Esta manhã, Meriam não cedeu e sentença manteve-se.
“Demos-lhe
três dias para reconsiderar mas insistiu em não regressar ao islã.
Condeno-a à pena de morte por enforcamento”, declarou o juiz Abbas
Mohammed Al-Khalifa, citado pela AFP. Antes de proferida a sentença, um
líder religioso muçulmano tentou convencer a sudanesa a voltar atrás.
Meriam limitou-se a afirmar: “Sou cristã e nunca cometi apostasia”.
Para
ouvir a sentença estiveram em tribunal perto de 100 pessoas, entre
estas diplomatas estrangeiros, conta a AFP. À agência, um dos
diplomatas, que pediu o anonimato, afirmou-se “chocado e triste” com o
veredicto, sublinhando que este não respeita a “própria Constituição
sudanesa e as obrigações internacionais”.
Um dos advogados da
sudanesa, Mohanad Mustafa, disse à AFP que vai recorrer e que Meriam
está disposta a levar o seu caso até ao Tribunal Constitucional. A
defesa sustenta que a proibição de apostasia atenta contra a
Constituição do país.
Não se sabe quando será cumprida a sentença.
Segundo a imprensa local, Meriam só deverá ser executada dois anos
depois de dar à luz.
Após o veredicto, as embaixadas dos Estados
Unidos, Canadá, Reino Unido e Holanda divulgaram um comunicado conjunto
onde manifestaram a sua “profunda preocupação” com o caso de Meriam e
pediram ao Sudão que respeite o “direito à liberdade de religião”.
A
Anistia Internacional considera a sentença “verdadeiramente
repugnante” e exige a libertação imediata de Meriam. “O adultério e a
apostasia são atos que não devem ser considerados crimes, quanto mais
serem comparados aos padrões internacionais do que é um ‘dos mais sérios
crimes’ e a condenação por pena de morte. É uma violação flagrante da
lei internacional dos direitos humanos”, defende Manar Idriss,
investigadora da Anistia no Sudão.
Idriss afirma que Meriam é
uma “prisioneira de consciência, condenada apenas por causa das suas
crenças religiosas e identidade, e deve ser liberada imediatamente e
incondicionalmente”.
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