Em tempos em que a igreja brasileira produz menos
discípulos e mais consumidores de religião, se faz necessário refletir a
respeito de pelo menos duas questões muito importantes. O que deve caracterizar
seus fiéis como aqueles que vivem debaixo do Senhorio de Cristo, como
discípulos do Mestre Jesus? E qual deve ser o papel da igreja na busca por uma
mudança nessa realidade?
A partir de uma perspectiva da parábola do
semeador, podemos encontrar um denso conceito sobre fatos que podem nortear um
caminho na busca por respostas.
Essa parábola apresenta basicamente dois grupos de
pessoas, os que não receberam a Palavra
de Deus, caracterizados pelas sementes que caíram à beira do caminho, e os que receberam a Palavra de Deus,
caracterizados pelas sementes que caíram, umas em terreno pedregoso, outras
entre espinhos, e outras em terra boa, solo fértil, embora do grupo que
pertencem essas últimas três classes de semeaduras (os que creram) somente a
que caiu em terra boa produziu, a cem, a sessenta e a trinta por um.
Jesus fala a respeito de níveis de compromisso,
comprometimento, engajamento no Reino de Deus, pois dos três tipos de pessoas
que receberam a Palavra (os que creram),
simbolizados por três tipos de terrenos, os dois primeiros não produziram, um
por causa da oposição - perseguição (Ef 6.12) em virtude da busca por viver a
Palavra, e o outro por causa do amor as riquezas e dos cuidados desse mundo (1Tm
6.9,10), os dois são símbolos de candidatos ao discipulado que foram reprovados
(Jo 15.2), aqueles que até começaram bem, após terem sido despertados por Deus
para servi-lo, porém naufragaram em águas ainda rasas do rio que os levaria até
a cidade de Deus, ao santuário das moradas do Altíssimo (Sl 46.4).
Restaram então as sementes que caíram em boa terra,
terras que foram regadas (1Co 3.6,7) e deram fruto, que produziram, terras que
simbolizam os discípulos, aqueles que a despeito da oposição do adversário (Ef
6.12) e das ofertas desse mundo (1Jo 2.15-17), perseveraram em servir (Jo 13.12-15).
Sem comprometimento com o Reino não existe
discípulo, pois Jesus disse: “se alguém
quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a cada dia sua cruz e siga-me”
(Lc 9.23). Os discípulos são ministros da reconciliação (2Co 5.17-19), também
foram comissionados a ensinar as nações (Mt28.19,20), receberam talentos segundo
sua própria capacidade (Mt 25.15), receberam dons do Espírito visando um fim
proveitoso (1Co 12.7), são membros de um Corpo, que por sua vez é composto por
membros ativos e todos necessários (1Co 12.12-22), demonstram seu amor (Jo 13.34,35)
não por palavras, mas por atitudes (1Jo 3.18), vivem pela fé (Rm 1.17b),
produzindo frutos que permaneçam (Jo 15.16) e boas obras, as quais Deus de antemão
preparou para que andassem nelas (Ef 2.10), porque a fé sem obras é morta (Tg
2.14-19).
Viremos agora nossas lentes ao semeador da
parábola, ou seja, à igreja, pois segundo Jesus, quem semeia, semeia a Palavra
(Mc 4.14), e Ele deu à sua igreja o papel de anunciar as boas novas do Reino (Mc
16.15). Percebemos com tristeza uma parte dessa igreja, semear um combo
(pacote) que já traz pedras e espinhos misturados à Semente.
O segmento cristão reformado (evangélico) que mais
cresce e influencia a sociedade no Brasil é o neopentecostal, que anuncia e tem
como base para seu discipulado uma mensagem antropocêntrica (confissão positiva
e evangelho da prosperidade) que nutri corações carnais, suas paixões e
cobiças.
Sua semente já vem misturada a pedra, a medida que
não serve para preparar seus fieis a tomarem sobre si toda a armadura de Deus para
que possam resistir no dia mau (Ef 6.13), em meio as provações e tribulações
inerentes a busca por viverem a Palavra de Deus (1Pe 4.12-16), pois
simplesmente, para eles não existe o dia mau para quem crê, a vida do fiel,
segundo sua visão, deve ser livre de todas as mazelas desse mundo, onde prosperidade
material e saúde plena são premissas da vida do crente abençoado.
Sua semente já vem misturada a espinhos, na medida em
que não apresenta um Reino de valores invertidos em relação aos desse mundo,
como é o de Cristo, pelo contrário, anuncia um sermão alinhado eticamente ao
sistema que a bíblia diz estar no maligno (1Jo 5.19), onde o ter é exaltado em
detrimento do ser, e há permissão para servir a Deus e a Mamon (Mt 6.24). Seus
fieis vivendo nesse contexto, jamais serão forçados a abandonar a Deus por
causa dos cuidados da vida ou por amor ao dinheiro, pois sua vida pseudocristã
tem como pilares esses comportamentos.
Temos então a terrível constatação de que esse tipo
de semeador jamais poderá produzir discípulos, uma vez que ao semear entulha também
a terra.
Assim como os Apóstolos denunciaram e se opuseram
aos gnósticos e cristãos judaizantes, produtores de doutrinas sincréticas e falsificadores
do evangelho (Gl 1.6,7) no período da igreja primitiva, também devem agir os
discípulos em nosso tempo, pois quem sabe que deve fazer o bem e não faz
(omissão), peca! (Tg 4.17).
A Deus toda a glória!
Nenhum comentário:
Postar um comentário