POR: OSWALDO PRADO
FONTE: Revista cristianismo Hoje
"Tudo é para Jesus". Essa frase emblemática tem sido ouvida
sistematicamente dentro e fora de nossas igrejas. Hoje é possível se
viver o evangelho com ingredientes bíblicos genuínos mesclados com
outros, que são acoplados a ele, sem critérios hermenêuticos saudáveis.
E, assim, a massa evangélica brasileira vive seu tempo de fantástico
crescimento numérico permeada de um movimento de entretenimento visando a
fixação e a manutenção dos membros das nossas mais variadas igrejas e
comunidades.
Essa ferramenta do entretenimento na vida dos cristãos
não é nova e tem sido usada pela liderança no decorrer da História. Os
primeiros cristãos, ainda sob o jugo do Império Romano, eram
contemplados com a política do "pão e circo" diante das atrocidades e
perseguições. Em um de seus poemas Rubem Alves escreve: "No tempo dos
romanos, o circo eram os cristãos sendo devorados pelos leões. Os
cristãos, de comida para os leões, se transformaram em donos do circo."
O
tempo passou, e a busca dos líderes cristãos por criar mecanismos de
gerar satisfação parece não cessar. Mergulhados em uma cultura ocidental
que tem como um de suas marcas principais as regras de comportamento do
mercado, temos levado nosso povo a se manter anestesiado com alguns de
nossos projetos de entretenimento. São modelos que privilegiam sempre os
resultados, os números, em detrimento dos conteúdos e absolutos da
Palavra de Deus.
Nesse caminho perverso de um pragmatismo
inconsequente, despreza-se o discipulado para a missão e o que importa é
ganhar espaço no mercado de almas (e corpos também), sem nos
importarmos muito com a ética, a moral e os valores centrais do Reino de
Deus. Temos nos regido, via de regra, em muitas ocasiões, por eventos
que "animem" nossas audiências, sem que as façamos sentir "culpadas" de
não se tornarem discípulas de Cristo e a carregarem dia a dia a Sua
cruz. Isso inviabilizaria as regras do mercado, que precisa sempre
crescer e se manter vivo, especialmente diante da concorrência.
Esse entretenimento está ligado visceralmente ao avanço da tecnologia. O estilo de vida high tech
invadiu a sociedade humana e chegou às nossas comunidades. Por um lado,
esses recursos tem sido extremamente benéficos para o avanço do Reino e
também para o desenvolvimento de nossas igrejas e das lideranças. Por
outro lado, essa tecnologia tem servido também para nos aproximar
daquilo que agrada aos sentidos, aos nossos olhos e ouvidos. São
verdadeiras superproduções apresentadas em cultos, congressos e
conferências. Não perdemos em nada para os grandes shows de artistas
consagrados. Isso seria maravilhoso se não ofuscasse a presença doce e
simples de Jesus, Senhor da Igreja, e colocasse em evidência pessoas,
igrejas e organizações.
A missão de Deus é realizada em um ambiente
extremamente diferente. Ela envolve pessoas e não estruturas, riscos
iminentes e não a manutenção do status quo, a unidade do Corpo
de Cristo e não a concorrência de mercado. Sendo assim o povo de Deus em
missão não encontra tempo para o entretenimento e nenhum tipo de
distração que os tire do objetivo primordial de levar o evangelho de
Jesus até o último da terra. Charles Spurgeon estava correto quando
disse: O diabo raramente criou algo mais perspicaz do que sugerir à
igreja que sua missão consiste em prover entretenimento para as pessoas,
tendo em vista ganhá-las para Cristo.
Como líderes de nossas
igrejas, qual tem sido o nosso posicionamento? Temos sido agentes de
manutenção e avanço desse tempo de muita festa e entretenimento?
Caminharemos com grandes eventos, com a busca espartana de crescermos
numericamente a qualquer custo, de liderarmos conforme as regras de uma
empresa que precisa dar resultados?
A caminhada missionária faz o
caminho inverso. O líder missional é chamado a compartilhar uma mensagem
que nem sempre será tão simpática e atraente, a ponto de entreter
pessoas. Ao contrário, ele as conduzirá ao compromisso inalienável de
viver o evangelho em todas as suas dimensões, sempre com o objetivo de
manifestar a glória do Senhor entre todos os povos da terra.
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Oswaldo Prado é vice-diretor de Expansão Missionária Sepal Brasil
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