Publicado em 08.12.2010
"Ninguém põe vinho novo em odres velhos. Se alguém fizer isso, os odres rebentam, o vinho se perde, e os odres ficam estragados. Por isso, o vinho novo é posto em odres novos." Marcos 2.22
Difícil não se impressionar com o processo de fabricação dos vinhos. Quando estive no Chile tive a oportunidade de conhecer uma vinícola e entender os detalhes e segredos que conferem a eles tal sabor e aroma. O que mais chamou a atenção foram os tonéis onde a bebida é armazenada para o processo de fermentação e envelhecimento. Aprendi que os melhores são tonéis franceses, fabricados em carvalho - madeira nobre e resistente, nativa da Europa e do Mediterrâneo - que chegam a custar três mil reais.
Quando em estado de espera dentro desses imensos barris de madeira clara, o vinho confere aos tonéis uma cor avermelhada, como se o fizesse sangrar. Por outro lado, é esse contato com a madeira que irá conferir à bebida um sabor especial. Definitivamente, ambos nunca mais serão os mesmos após serem ajuntados!
Para falar sobre forma e essência no Reino de Deus, é necessário entender, primeiramente, que uma não sobrevive sem a outra e é imprescindível para o perfeito funcionamento dessa ou daquela. É como na vinicultura. A bebida pode ser a essência e o tonel apenas a forma, mas ambos são necessários no processo de amadurecimento do vinho. O vinho será marcado, transformado pela madeira. E vice-versa. Isso significa que todo aquele que rompe com determinada estrutura, necessariamente criará outra estrutura, mesmo que não admita isso. Não existe essência sem uma determinada forma.
É fundamental entender também que o vinho e a madeira devem desenvolver-se juntos. Um vinho novo que passará por um processo de fermentação intenso não pode ser colocado em tonéis velhos. Ou perderá seu sabor, ou romperá os tonéis. Isso significa que determinadas estruturas devem ser abandonadas quando se perdeu a essência do evangelho. Conteúdo novo, ou melhor, o velho que se perdeu, deve ser iniciado em uma nova estrutura.
Outro ângulo de ver a analogia é definindo a forma como "atividade meio" e a essência como "atividade fim". Ninguém quer "tomar" um tonel. Ele é apenas um meio através do qual se atinge o fim de um vinho de qualidade. Na prática do dia-a-dia, contudo, percebe-se um encantamento com as atividades meio e um desvirtuamento das finalidades. Se a finalidade passa a ser o de ganhar dinheiro ou perpetuar-se no poder, por exemplo, basta aplicar algumas fórmulas "mágicas" que o povo o seguirá. Mas isso nada tem a ver com a essência relacional do evangelho. Muitos estão correndo atrás de fórmulas, ou formas que dão certo. Cresce o apego à forma em muito maior proporção que o amor à essência do evangelho. Estão aí os ritos e rituais que perpassam séculos, perdendo por completo seu sentido e significado, mas perpetuando-se como atos de magia que tem poder intrínseco em si mesmo.
Fique muito atento se o vinho que você está entregando em seu ministério não tem sido contaminado pela estrutura que o cerca, incluindo você em suas motivações e desejos pessoais. Aos líderes chamados de cristãos interessa fazer somente o que seu mestre fez: trazer à festa um novo vinho de qualidade superior e não vinagre em embalagem enganosa.
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