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domingo, 20 de dezembro de 2009

“APARTAI-VOS DE MIM, VÓS QUE PRATICAIS A INIQÜIDADE.” (MT 7.23) - IV

Quando ingressei definitivamente no ministério pastoral estava saindo de um furacão que varreu a antiga denominação à qual era membro. São muitos detalhes que, se descritos, não só deixariam os leitores escandalizados, como tornaria este texto cansativo. Mas, posso dizer que tudo o que presenciei naquela igreja e principalmente naquela circunstância em especial, foi o suficiente para nortear toda a concepção de ministério cristão. Decidi que faria o possível para jamais me tornar um motivo de escândalo para crentes e não crentes, visto que ali a hipocrisia se fantasiava de terno, gravata, saias longas e um discurso saturado de santidade, esvaziado de profundidade e de fidedignidade às Escrituras – discurso que na maioria dos casos destoava da prática. Preciso ser honesto sublinhando que na maior parte dos casos estas coisas aconteciam ou acontecem por causa do despreparo teológico e cultural dos obreiros locais.
A propósito, quero prosseguir fazendo um questionamento: Que respostas as Assembléias de Deus, Deus é Amor e demais denominações que imitavam ou ainda imitam os costumes da Europa Medieval dão para os irmãos que foram excluídos, execrados e humilhados publicamente só porque não estavam vestidos nos conformes das suas chamadas “doutrinas”? O que eles dizem para aquelas adolescentes (hoje mulheres) que eram proibidas de participar da Santa Ceia quando cortavam as pontas do cabelo ou usavam saias acima do joelho (!)? O que dizer para estas pessoas, das quais muitas nem permaneceram na fé, outras estão em seitas empurradas sem dó nem piedade para o colo do diabo em nome das idiossincrasias concebidas pela má interpretação bíblica – uma das coisas mais bizarras era, por exemplo, os códigos que eles utilizavam para a disciplina e exclusão dos “rebeldes” baseados em textos fora do contexto para justificar as decisões obtusas dos pastores ou dirigentes locais. Para se ter uma idéia, usava-se Deuteronômio 22.5, onde diz que “A mulher não usará roupa de homem, nem o homem, veste peculiar à mulher” não só para impedir que mulheres de calças compridas não fossem batizadas até que fossem “libertas”, mas também para excluir sumariamente as “rebeldes” que fossem flagradas com a “maldita roupa” – hoje em dia muitos destes pastores e ministros têm que engolir suas esposas, filhas e netas de calças coladas e baby look louvando ao Senhor com a Harpa Cristã na mão! Aleluia!!!
Fui líder de jovens e vi meninos chorando porque os pais diziam que futebol era do diabo – imagine só um tupiniquim ser proibido de jogar futebol! É a morte! Estes mesmos meninos não podiam usar shorts ou camisetas regatas, sob as alegações da perversa “doutrina”! Televisão?! Era o top das heresias... O tema preferido dos pregoeiros das vigílias e tardes da opres... quer dizer, “tardes da libertação” (cultos destinados a orações fervorosas, manifestações de dons e onde acredita-se obter mais poder). Havia “revelações” contadas com a típica ênfase pentecostal, recheadas de detalhes sinistros que fariam com que alguns filmes de terror se parecessem com historinhas do tipo Chapéuzinho Vermelho – Exús, cobras, dragões e a até a Besta do Apocalipse saíam das telas nestas supostas visões (?)!
Vi ainda a proibição do uso da barba; a proibição de ir à praia; a demonização dos adereços femininos e maquiagens; etc. Vi tudo isso e, imbuído de ingenuidade, ignorância e zelo por aquilo que acatei como verdade, deixei com que tudo aquilo se tornasse parte da minha vida por cinco anos. Hoje, vejo que era prisioneiro da mentalidade religiosas que dominou aquela denominação por muitos anos e que ainda domina muitas outras. Entendi que perdi grandes oportunidades, que não fui edificado ao me apegar àquelas “doutrinas”, que perdi tempo e até amizades preciosas. Não tenho muitas saudades daquele tempo, resta uma sensação de que poderia ter sido melhor. Hoje, mesmo sabendo que aquele foi um tempo perdido, procuro ler e compreender mais a Bíblia. Não quero repetir a "proeza" de manipular as pessoas, de mantê-las debaixo do julgo religioso e nem de confiná-las eternamente na masmorra da infantilidade.

“Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem. Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade.”Colossenses 2.20-23

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