“A noite foi feita pra dormir, menino!”, era o que apregoava minha mãe quando me flagrava nas madrugadas perambulando pela casa, lendo ou assistindo TV. Obviamente sempre concordei com ela, meu organismo não. Então, acabei me acostumando com as duas coisas: Com as broncas da mamãe e com a implacável insônia.
“A noite foi feita pra dormir ‘fio’!”, é o que diz minha esposa quando insisto para que vá se deitar, ou quando escorrego devagarinho da cama para iniciar a eterna batalha titânica entre a vontade de relaxar e o sono que não vem. De novo, me rendo e cedo sem muita resistência à truculenta (e estranha) relação entre o “canto da sereia” e a nada sensível voz da insônia.
Amigos e irmãos me aconselham daqui, me oferecem alguma receita caseira que "deu certo" dali e, assim, vão passando meus dias e várias das minhas noites bem diante dos meus olhos. Mas, se alguém pensa que isto me incomoda está muito enganado.
Há muitas coisas que realmente incomodam, piores que minha insônia, e que já aconteceram nas noites e madrugadas adentro. Eis algumas delas: Ter de socorrer às pressas alguma de minhas filhas, enfrentando o marasmo dos hospitais; ser acordado com o grito da vizinha, cujo marido falecera por volta das 03h00min; ser acordado com o quarto invadido por goteiras durante um temporal; receber chamadas pelo “tele-susto” (telefonemas inesperados no meio da madrugada que a gente já atende com taquicardia); etc.
Lembra que disse no comecinho sobre perambular pela casa, ler ou assistir TV? Então, há bem poucos dias, após trabalhoso e exaustivo expediente, cumpri meu ritual noturno (últimas consultas aos e-mails, blogs, janta, conversas com a mulher e meninas maiores, brincadeiras com as pequenas, banho, oração e cama). Menos de uma hora depois lá vou eu para mais uma jornada até que o sono resolva chegar. Então, foi quando enveredei por aquela enfadonha prática masculina de zapear à procura de algo que me convencesse a parar para ver, onde encontrei mais uma coisa para minha lista pessoal, do ranking dos piores da madrugada.
Acho que muita gente vai concordar comigo no tocante a observação de que todos os canais de televisão são no mínimo cínicos em matéria de programação noturna, pois quase tudo o que a gente vê nas madrugadas televisivas são medíocres demais, repetitivos demais ou desatualizados demais, portanto, desinteressantes demais! Claro que existem exceções, raras, ínfimas, mais existem. No entanto, a regra é: O pior da televisão passa de madrugada.
Programas ditos evangélicos não fogem à regra. Se a maioria dos que a gente vê durante o dia são ruins, os da madrugada são péssimos, os piores dos piores!
Foi assistindo a um destes programas por cerca de 30 minutos (foi o que aguentei da auto tortura, diga-se de passagem) que cheguei à conclusão de que minha insônia não é tão ruim assim, se comparada às falcatruas e pilantragem praticadas pelos mercenários que insistem em pilhar as pessoas em nome de Deus!
Pior que minha insônia, é ouvir o pastor gringo milionário forjar uma interpretação bíblica, sob o olhar cínico e supostamente interessado do apresentador-mor e a conivência involuntária (talvez) de um intérprete, que traduzia palavra a palavra as heresias e outras manobras “terrorlógicas” usando a manjada técnica do texto fora do contexto (neste caso um trecho do Apocalipse), preparando insones e meros notívagos para o gran finale, a lábia, o 171 da fé: O golpe da oferta de R$ 610,00!
Que Deus tenha misericórdia de mim e me livre desta insônia. Que Deus tenha misericórdia de nós, e nos livre daquilo que é mil vezes pior que minha insônia: As falcatruas patrocinadas e propaladas por aqueles que deveriam falar, pregar e ensinar só a verdade, mas insistem em tirar proveito da boa fé e da falta de sono alheios! – pr Aécio
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