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quinta-feira, 8 de abril de 2010

ALGUMAS LEMBRANÇAS E EXPERIÊNCIAS DE UM TUPINIQUIM CEARENCE...

...QUE SÓ QUER SER FELIZ NO NÃO TÃO MARAVILHOSO, MAS MESMO ASSIM ADORÁVEL UNIVERSO EVANGÉLICO! - SEGUNDO CAPÍTULO
Quem me conhece sabe que tenho poucos amigos – por mais estranho e paradoxal que pareça dizer isto por se tratar de um pastor. Reconheço que desde criança tenho dificuldades na área relacional, e há muito luto contra minha própria natureza para ao menos dominar esta “debilidade” temperamental. Para ser bem honesto (e isso incomoda muita gente), como tenho a facilidade de me apegar demais às pessoas de quem gosto, hoje em dia prefiro manter meu quadro de amigos bem restrito, investindo nos poucos que estão à minha volta tempo de qualidade, admiração e respeito. Lamentável, mas providencialmente criei certas resistências a novas amizades. Até gosto do jeito que está por considerar que já me decepcionei demais com alguns que durante muito tempo forjaram ser o que nunca foram – afinal, amigo é amigo para sempre. Amigo não abandona. Amigo não trai, não acusa e não tira vantagens das pessoas... Cansei das experiências amargas com irmãos e ministros que fazem tudo isso (e muito mais)!
É sobre amizades nos ambientes de igrejas que quero compartilhar na segunda mensagem desta série.

A começar em minha pequena igreja, desde os primeiros momentos notei que as pessoas se relacionavam muito pouco e muito mal. Refiro-me a relacionamentos e amizades sinceros, honestos e duradouros.
Em minhas observações percebi que os diálogos e os contatos sempre giravam em torno de interesses relativos à práxis religiosa, como se as demais coisas do cotidiano e do universo particular de cada um não tivessem nenhuma relevância ou importância.
Via muitas pessoas sofrendo, carregando pesados fardos e tudo o que se fazia era uma oração piegas, ou a citação de um chavão “crentesco” mais ou menos assim: “Vamos orar pelo irmão tal...!”. Não via e tenho certeza que não havia real interesse pelas pessoas no sentido de conhecê-las fora do espaço do templo. Só para se ter uma idéia – tiro a média pela minha experiência – passei os cinco primeiros anos numa mesma congregação (de onde só saí em razão dos inúmeros escândalos e heresias proporcionados pela liderança de então) sem jamais ser discipulado, ou sequer ter sido visitado por um dos cinco pastores que revezaram na direção da congregação durante aquele período! Posso estar enganado, mas a impressão que ficou foi a de que eles jamais se interessaram realmente por minha família ainda não cristã, ou mostraram interesse por nossa condição – isto teve uma repercussão bastante negativa para mim em especial!
Para ser justo, após me tornar líder de jovens e professor de EBD até que um ou outro jovem visitava minha casa esporadicamente, porém, na quase totalidade das vezes os assuntos orbitavam em torno da vida congregacional... Tudo muito formal e “espiritual” – ou melhor, tudo muito mecânico e melancólico. Nada de gargalhadas, frugalidades e descontração... Que pena!
Quase nunca sentia as pessoas à vontade para compartilhar de suas dores ou de seus dramas pessoais. Era como se todos fingissem o tempo todo que tudo ia bem e, quando alguém resolvia falar um pouco de si, o fazia no púlpito ou reuniões de oração em forma de cânticos (hinos melodramáticos que falavam de alguém num vale ou num deserto, etc.), ou através testemunhos-tragédia, carregados de desabafos, mas com a onipresente observação no final: “Mas, Deus vai dar a vitória!”.

Deste período, paira em minhas recordações a imagem de uma jovem senhora que não passava um mês sem pedir a oportunidade para cantar um hino no culto dominical. A certa altura, sua ida ao púlpito virou até motivo de comentários zombeteiros na congregação em razão de dar a parecer que ela só tinha duas músicas no repertório pessoal: Uma que exortava a igreja a não desanimar e outra que censurava quem vivia reclamando da vida. E o que tinha de engraçado nisto? É que se tratava de uma pessoa tristonha, às vezes agitada e nervosa. Qualquer que lhe desse a oportunidade (e tivesse paciência) fatalmente a ouviria falar de seu permanente desânimo ou reclamar de sua condição pessoal e familiar. Acho que sofria de uma seríssima crise existencial ou simplesmente pensava que o mundo todo conspirava 24 horas por dia contra ela, sem tréguas!
Talvez, a tristonha irmã mudasse o repertório, ou cantasse hinos que falassem de esperança e de paz, se tão somente encontrasse mais pessoas interessadas em suas dores, que fossem mais amigas e que não zombassem de suas angústias.
Concluo afirmando algo que passei a acreditar desde aquele tempo: Espiritualidade e religiosidade sem relacionamentos e amizades sinceros, honestos e duradouros, são inúteis.. – pr Aécio


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