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sexta-feira, 28 de maio de 2010

CORAÇÃO DE PASTOR


O texto que lerá abaixo foi escrito há quatro anos. Entretanto, de lá pra cá as coisa não mudaram muito no que diz respeito à relação pastor-ovelha. Por este motivo achamos oportuno postá-lo para a apreciação e comentários de quem visita nosso blog. Boa leitura!
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Neste fim de semana estarei em Lídice, sul do Rio de Janeiro, na igreja que pastoreio interinamente. Terei um encontro com a liderança daquela igreja para avaliarmos o desempenho de nosso seminarista que vem trabalhando lá desde julho deste ano, e definiremos se haverá convite oficial para a sua ordenação ao ministério ou não.
Vejo-me pensando hoje sobre a relação pastor-ovelha. Tenho meditado bastante por este ângulo desde que resolvi pregar em João 10 e Lucas 15. A ovelha é um animal extremamente dependente de seu pastor, e sua sorte depende diretamente do caráter de seu dono. A ovelha é tão frágil que, por ela mesma, não consegue nem sequer beber água... por isso o Salmo 23 diz: “leva-me às águas tranqüilas”. Além disso, Philipp Keller, um escritor que trabalhou como pastor de ovelhas no Oriente, disse em seu excelente livro Nada me faltará: “durante os anos em que fui criador de ovelhas, talvez as lembranças mais pungentes estejam ligadas à ansiedade da contagem dos animais, associada ao trabalho de salvar e resgatar as ovelhas viradas”.

Eu desejo que o seminarista em Lídice tenha essa preocupação como futuro pastor! Contar e recontar ovelhas é tarefa árdua de um pastor que, de fato, preocupa-se com suas ovelhas, não as tendo apenas como número sem rosto em seu rol de membros, mas sobretudo enxergando-lhes a alma, em toda a sua fragilidade e dependência. Há de fato ovelhas que já não são mais ovelhas - costumo dizer que elas foram modificadas geneticamente, e agora são “lobelhas”. Isso me faz lembrar algo que li recentemente: lobos comendo ovelhas, aí até se compreende pelas leis da natureza, agora... ovelhas comendo ovelhas é monstruoso e contra a própria natureza!!!

O ministério pastoral hoje precisa ser revisitado como um serviço de alta responsabilidade. Quando olho para Lucas 15.4-7, percebo um homem que, possuindo cem ovelhas, logo ele delega a responsabilidade de cuidar dessas ovelhas a funcionários de sua confiança, que eu chamaria de sub pastores, e um deles simplesmente “perde uma delas...”. O texto fala de uma perda, uma perda irreparável não apenas para o sub pastor que estava cuidando dela, mas de toda uma comunidade que contabilizava ao fim do dia o seu rebanho e havia chegado à triste conclusão que faltava uma... Na lógica capitalista e utilitarista que impera (até mesmo em nossas igrejas) aquele homem poderia pensar “... ah... mas ainda temos 99... não vale a pena correr o risco de perder o que temos em busca da que já não temos...”.

Agora, encanta-me o retrato de um coração pastoral que não fica reduzido ao conforto da contemplação do número de ovelhas que já possui em seu rebanho, mas se expõe à sequidão e aos perigos do deserto para buscar a que está perdida... E a procura deveria ser de uma firme atenção porque, caso a ovelha tivesse tropeçado em algum buraco e se virado, ela permaneceria virada, imóvel, esperando ser retirada desse estado de morbidez anunciada, afinal de contas, uma ovelha jamais se vira sozinha... Os balidos daquela ovelha perdida já não estavam em um som inteligível. Cabia ao pastor ter sensibilidade à flor da pele... Não posso deixar de encerrar aqui uma sentença: triste é o pastor que já perdeu o coração de pastor!!!

É lamentável ter de concordar com o professor Lourenço Stelia Rega em um artigo intitulado “Crente porco espinho” que “no segmento cristão, parece que estamos caminhando para um grande vazio, ainda que com os bolsos repletos de tecnologia e sofisticações. Cada crente é estimulado a voltar-se para si mesmo e buscar a sua própria significação da vida. Caímos numa ausência de solidariedade, um vazio de perspectivas, um marasmo de conteúdos. Corremos atrás de uma vida eclesiástica ocupada, sem tempo para reflexão sobre o próprio sentido do cristianismo. Perdemos a percepção de como podemos ser úteis para a construção de um mundo habitável.”
Cabe a nós, os subpastores do Supremo Pastor Jesus, não nos deixarmos levar pelo “espírito de nosso tempo” que tem nos impulsionado ao isolamento, à indiferença e ao distanciamento uns dos outros. Sei que é difícil, mas o coração de pastor precisa continuar sendo o da acolhida, preocupação com os perdidos e amor incondicional, sobretudo àqueles que nos fazem mal. É aquilo que eu recebi de Deus esta semana a respeito de uma pessoa que insiste em me chatear: “não espere que ele venha reconhecendo seus erros, perdoa-o apenas”. É por aí... perdoar é estar disposto a doar-se novamente, mesmo sem um reconhecimento por parte do ofensor de seus próprios erros e estratagemas para o mal.

Que Deus injete em cada coração de pastor um coração ainda mais pastoral!

Maranata. Ora vem, Senhor Jesus!!!

POR EZEQUIAS AMANCIO MARINS
EM 27/10/2006

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